Para consolar-me dos remorsos da preguiça, tomo o caminho dos bas-fonds, impaciente por aviltar-me e misturar-me com a ralé. Conheço esses mendigos grandiloquentes, nauseabundos, sarcásticos; mergulhando em sua sujeira, gozo com seu bafo fétido não menos do que com sua verve. Implacáveis com os que triunfam, seu gênio para não fazer nada força a admiração, embora o espetáculo que ofereçam seja o mais triste do mundo: poetas sem talento, prostitutas sem clientes, homens de negócio sem um tostão, apaixonados sem glândulas, o inferno das mulheres que ninguém quer... Eis aqui, finalmente, digo-me, a realização negativa do homem, ei-lo despido, este ser que pretende ter uma ascendência divina, mísero falsificador do absoluto... Devia acabar aí, nesta imagem que se parece consigo, lama na qual jamais nenhum deus pôs a mão, besta que nenhum anjo altera, infinito parido entre grunhidos, alma surgida de um espasmo... Contemplo o surdo desespero dos espermatozoides chegados a seu termo: os rostos fúnebres da espécie.
Emil Cioran
2 Comments:
meu deus, nao acredito que existe esse disco!
Faz 6 anos que leio esse blog e sempre fico impressionado com o conteudo.É mto fácil encontrar alguem apresentando uma ideia profunda, porem primaria, que ja foi discutida milhoes de vezes, de uma forma mais complexa do que o conteudo. Nao aguento mais ouvir sobre a "trilogia da incomunicabilidade" por exemplo, que e discutida da mesma maneira todos os anos no MIS. Mas aqui é uma especie de oasis, onde encontro coisas realmente novas, e nao o meesmo texto do john zerzan(texto esse que eu amo).
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